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O Pintor Ludugério

PROFISSÕES E PROFISSIONAIS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

O Pintor Ludugério

 

Não havia tintas prontas como há nos dias de hoje. Para ser pintor naquela época, era essencial dominar os segredos da preparação das tintas, utilizando os escassos materiais disponíveis no mercado local: tabatingas branca e amarela, azul xadrez, cal, óleo de linhaça, goma de tapioca e uma quantidade limitada de dissolventes e corantes artificiais.

O único mestre na arte da pintura de casas residenciais e estabelecimentos comerciais era um mulato de estatura baixa, conhecido pelo nome de Ludugério. Suas obras eram sempre as mais belas da região, admiradas por todos que passavam. Ludugério contava com um ajudante permanente, apelidado de Zinho. Este trabalhou ao seu lado durante toda a vida, mas nunca conseguiu aprender, nem sequer, a reproduzir sozinho qualquer das inúmeras fórmulas de tintas criadas pelo mestre. Zinho, no entanto, parecia se divertir mais com outra coisa: atazanar os garotos que passavam perto das obras, chamando-os de "Aió". Até hoje, permanece um mistério o significado dessa peculiar brincadeira.

Ludugério era, sem dúvida, um excelente pintor — quando estava sóbrio. Após algumas doses de bebida, porém, suas criações adquiriam um caráter, digamos, inesperado.

 

Os proprietários dos imóveis frequentemente precisavam ficar atentos, vigiando-o durante o dia para evitar que ele bebesse enquanto trabalhava. Quando conseguiam mantê-lo longe da bebida, sua pintura era impecável, uma verdadeira obra de arte. Porém, caso o mestre escapasse da vigilância... bem, o resultado era sempre uma surpresa — e nem sempre agradável.

 

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