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A Mesa de Ping-Pong que era uma Obra de Arte
PESSOAS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

Zezito do Cinema e Clóvis Carvalho eram mais que companheiros; eram figuras emblemáticas do Grêmio Recreativo dos Estudantes, eternamente envolvidos em projetos mirabolantes que garantiam assunto para as rodas de conversa da cidade. Certo dia, com ares de inventores, decidiram que o clube precisava de algo grandioso: uma mesa de ping-pong que não fosse apenas um jogo, mas uma obra de arte. E, como proclamaram aos quatro ventos, seria a melhor da região.
O planejamento virou obsessão. De madeira ao acabamento, tudo deveria ser impecável. Zezito e Clóvis eram tão meticulosos que chegaram a viajar até Senhor do Bonfim para encontrar o material ideal. Passaram semanas – que quase se transformaram em meses – trabalhando no que chamavam de "obra-prima". Martelavam, lixavam, discutiam detalhes com uma seriedade digna de arquitetos construindo catedrais.
Finalmente, a mesa ganhou vida. Foi posicionada estrategicamente, bem na frente das cadeiras do cinema, quase sob a tela, como uma peça de exposição. Os dois construtores, orgulhosos de seu feito, decidiram batizá-la. Clóvis, que tinha um espírito criativo peculiar, desenhou o nome "ZECÁQUIS" em um dos cantos da mesa. Quando perguntaram o significado, ele explicou com toda pompa: era uma fusão dos nomes Zezito e Clóvis Carvalho, como se a mesa fosse quase uma extensão de suas almas.
Mas é aí que a história começa a mostrar sua face mais humana e tragicômica. Clóvis, perfeccionista por natureza, enquanto admirava a obra, notou um pequeno defeito: a cabeça de um prego que parecia desafiá-lo, ligeiramente fora da madeira. Decidido a corrigir o erro, pegou o martelo. E foi nessa maldita hora que tudo começou a desandar.
No ímpeto do conserto, acertou o martelo no dedo já machucado da outra mão. A dor veio acompanhada de uma fúria irracional – e ali mesmo começou a martelar a mesa inteira, como se pudesse descontar nela o desaforo do prego e da vida. Quando finalmente se acalmou, deixou o martelo cravado no centro da mesa, como um monumento ao desastre.
A mesa, agora marcada pela excentricidade de Clóvis, permaneceu intocada durante seis meses, junto ao martelo que se tornara parte da composição. Zezito, desiludido, deixou de lado o projeto que outrora fora seu orgulho. Já Clóvis, talvez envergonhado ou simplesmente exausto, não voltou ao Grêmio durante esse período. Mas a história dos dois ficou gravada nas paredes do clube e nas conversas de quem testemunhou o auge e a queda da "ZECÁQUIS".
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