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Fogos e Pães - Estranha União Comercial

ESTABELECIMENTOS E EMPREENDIMENTOS COMERCIAIS
Autor: Fernando Pinto de Carvalho

A única casa de fogos da cidade era, curiosamente, também uma padaria. O Sr. João de Castro, proprietário dessa inusitada união comercial, conquistou os moradores com sua habilidade de vender pães e fogos simultaneamente, um feito tão inusitado quanto arriscado. Os fornos, sempre quentes e em plena atividade, ficavam nos fundos do estabelecimento. Entretanto, o perigo era evidente: segurança simplesmente não fazia parte do cenário. Os fogos de artifício permaneciam expostos nas prateleiras, à vista de todos, sem qualquer tipo de proteção ou cuidado especial.

Hoje, ao refletir sobre essa situação, percebo o quanto era descuidada e imprudente a realidade daquela época. Mas, naquele tempo, ninguém parecia se importar. O Sr. João de Castro, com seu jeitão despreocupado, atendia todos os clientes assobiando uma melodia repetitiva que se tornou parte da memória coletiva. E, surpreendentemente, nada de grave ocorreu durante os mais de 20 anos em que a padaria manteve essa peculiar atividade: comercializar pães e fogos sob o mesmo teto.

O estoque de fogos era variado e atendia a todos os gostos e necessidades. Fogos Caramuru, Fogos Adrianino, bombas-de-bater, chuvinhas, traques, rojões, chuva-de-prata... Não faltava nada! Era um verdadeiro paraíso para os entusiastas das comemorações.

Vivia-se em uma época distinta, marcada por um espírito despreocupado, em que as pessoas priorizavam o entusiasmo das celebrações sobre questões de segurança. O Sr. João de Castro, porém, tinha sua dose de sorte e cuidado. Nenhum acidente jamais ocorreu em sua padaria, e a pequena casa de pães e fogos permanece na memória dos habitantes como um símbolo de uma era mais simples e espontânea.